Rui Barbosa
O
poema de Rui Barbosa, transcrito a seguir, é de uma impressionante
atualidade. Poderia ter sido escrito hoje sem mudar uma palavra...
Sinto Vergonha de Mim
Sinto
vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo, por ter
batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por
primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar
pelo caminho da desonra.
Sinto
vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela
democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a
ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a
família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o feliz a
qualquer custo, buscando a tal felicidade em caminhos eivados de
desrespeito para com o seu próximo.
Tenho
vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a
tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de
humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos para justificar
atos criminosos,a tanta relutância em esquecer a antiga posição de
sempre voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho
vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer... Tenho vergonha da
minha impotência,da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu
cansaço.
Não
tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e
jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu
corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha
de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
De
tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de
tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da
honra, a ter vergonha de ser honesto
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